sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Arte de Gana

 Em Gana, na região da Grande Accra, a estilização de caixões é uma febre, considerada um símbolo emblemático da arte no país. Só na capital Accra, são mais de duas dúzias de estúdios especializados espalhados pela cidade. Este número só não é maior, porque a fabricação da obra exige muita técnica, talento e conhecimento histórico. 




As primeiras formas dessa arte surgiram nos anos 50 e o grande responsável pela criação do novo gênero foi o carpinteiro Seth Kane Kwei. Ele sempre escutou de sua avó sobre suas curiosidades entorno do avião e sua fascinação pelo meio de transporte aéreo. Ela morreu sem ter a chance de viajar e para homenageá-la o jovem carpinteiro resolveu preparar um belo caixão em forma de avião. Mais do que um mimo, para ele era uma maneira de fazer com que sua avó fizesse a sua viagem para o outro mundo na forma sempre sonhada. Deste momento em diante, as encomendas e demandas não pararam mais e a arte se espalhou pelo país. Pescadores pediam por barcos, cultivadores por cebolas e por aí a arte se afirmou e o artesão foi se tornando cada vez mais um perito da área. Em 1960, os caixões figurativos já eram parte integrante da cultura local de funeral.

No entanto, não foi apenas a ideia altruísta de Kane Kwei a razão da fama dos caixões. Nas crenças religiosas locais, acredita-se na vida após a morte. Há uma grande valorização do mundo posterior, que para eles, é uma continuação da vida na terra. E ainda, os mortos passam a ser um ícone dos valores tradicionais e são considerados como ancestrais, muito mais poderosos do que os seres vivos, capazes de influenciar a vida daqueles na terra. Valorizar e criar caixões elaborados para os funerais é assim uma forma de prestar homenagens e estimar a viagem entre um mundo e outro e garantir uma bela chegada para a próxima etapa da vida.


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